6,30h. Madrugada ainda.
Conforme planeado, encontramo-nos na entrada do hotel onde estávamos hospedados. A temperatura estava fresca mas revigorante. O dia prometia ser perfeito para aquilo que estava programado, assistir e registar o nascer do sol a partir do miradouro de S. Leonardo da Galafura no vale do Douro.
Até lá, o percurso é feito por estradas que serpenteiam as encostas repletas de vinhedos há pouco vindimados, oferecendo panoramas únicos para onde quer que se olhe sobrevindo uma vontade indomável de fotografar.
Chegados ao destino, lá longe, descortinávamos já os contornos dos montes envolvidos pela luz da aurora, prenúncio do maravilhoso espectáculo que privilegiadamente iríamos presenciar neste poético e inspirador lugar.
O panorama é sublime. A nascente estende-se o Alto Douro vinhateiro até terras de Espanha, a sul confrontamo-nos com as serras das Meadas e Montemuro, e para poente e norte, as magníficas serras do Marão e Alvão.
Estamos no céu!
P.S. – Agradeço à Primeira Luz e ao Nuno Luís em especial, a oportunidade deste mágico momento.
À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Miguel Torga